A Campanha Outubro Rosa começou nos Estados Unidos e tem como objetivo a prevenção do câncer de mama por meio de auto-avaliação e diagnóstico precoce. Com o decorrer do tempo, a Campanha foi ganhando visibilidade internacional entre simpatizantes da causa e tendo adesão de empresas públicas e privadas para divulgação da campanha.
Basicamente, assim como muitas Políticas Públicas, a Campanha do Outubro Rosa é fundamentada em uma noção mentalista, que pressupõe que saber sobre causa comportamento de agir sobre, desconsiderando as contingências que instalam e mantêm determinado comportamento.
Vamos a um exemplo claro sobre como as propostas mentalistas são falíveis: você deseja emagrecer para usar aquele biquíni no carnaval. No entanto, você vai a uma festinha de aniversário, tem bolo de chocolate e, mesmo sabendo da sua dieta e exercícios, você come! Sendo assim, mesmo sabendo das vantagens futuras, você preferiu um reforçamento imediato bolo de chocolate.
No entanto, a Campanha parece gerar efeitos positivos, mesmo se baseando em uma explicação mentalista. O motivo pelo qual isso ocorre são as seguintes:
- O Ministério da Saúde aderi anualmente a Campanha e solicita as Secretárias Estaduais e Municipais que promovam-na;
- Ou seja, gera um controle estatal frente as empresas municipais por meio da agência de controle Ministério baseado em um seguimento de regra;
- Por sua vez, um município aderindo a Campanha promoverá um número maior de prevenções junto a população feminina;
- Os Centros de Saúde da Família por meio das agentes de saúde do território farão controle social face a face com a população feminina, solicitando que visitem o CSF;
- Durante o mês de Outubro, muitas instituições, principalmente de Saúde, decoram seus ambientes de rosa. Essa decoração diferenciada pode servir de Estímulo Discriminativo para o comportamento de algumas pessoas perguntarem do que se trata tal decoração ou "este este lacinho rosa que você está usando é pra quê?";
- Deste modo, percebe-se porque, mesmo a Campanha Outubro Rosa se baseando em pressupostos mentalistas, apresenta-se como um modelo que gera sua manutenção e eficácia. Ou seja, a resposta não está nos seus pressupostos filosóficos, mas no gerenciamento das consequências que tal estratégia traz ou poderá trazer a população, profissionais de saúde ou gestores do SUS.Por sua vez, o profissional de saúde ou outra instituição que aderiu à Campanha que tenha conhecimento (treinamento prévio) sobre o tema terá maior probabilidade de divulgar o tema e espera-se que este comportamento verbal sobre Outubro Rosa promova adesão de mulheres a fazerem prevenção durante o período da Campanha;
- A curto prazo, o próprio número de mulheres aderindo a prevenção sinaliza aos profissionais de saúde que a estratégia deu certo e dá visibilidade aos gestores do SUS. A longo prazo, o decréscimo de incidências de câncer de mama e diminuição dos gastos com tratamento especializados manterá a estratégia dos gestores do SUS por meio de reforçamento negativo e, talvez, o aumento de auto-avaliações por parte da população diminua o fluxo de atendimentos nos CSF para prevenção sem, no entanto, diminuir os benefícios da Campanha;
- Finalizando, o Outubro Rosa pode ser considerada uma prática cultural já que é um comportamento ensinado e mantido socialmente e que traz benefícios (valor de sobrevivência) para a população que a pratica.
Há algumas vantagens em haver uma estratégia com data marcada na agenda de ações das secretarias de saúde, como ter a possibilidade de organizar de modo coerente as ações dos profissionais de saúde e criar estratégias eficientes de divulgação e sensibilização da população em aderir à prevenção.
Por exemplo, enquanto campanha dispersa no decorrer de todo o ano poderiam não controlar de modo eficiente o comportamento dos profissionais em promover prevenção e adesão populacional, uma campanha com data marcada e objetivos claros a curto prazo (como ter o maior número de mulheres presentes no CSF e fazendo prevenção) podem servir de condição mais adequada na promoção e manutenção do comportamento dos profissionais. Do mesmo jeito, a população fica mais sensível às estimulações áudio-visuais entre cartazes e propagandas de rádio e TV que emitem regras verbais sobre os benefícios da prevenção.
Um dica: quando for barganhar com alguém a possibilidade de promover alguma estratégia, sempre exemplifique as consequências a curto e longo prazo que sua atividade poderá desenvolver e de que maneira esta atividade se relaciona com outras políticas ou pode angariar fundos (como maior verba para o SUS de um município ou de que maneira diminuirá significativamente os gastos). Apesar de que as Políticas Públicas deixem bem claras que devemos promover esta ou esta atividade, nem sempre fica claro que determinadas ações que venhamos promover tem relação direta ou indireta com tal política ou de que maneira os gestores terão seus comportamentos de aderir a sua proposta reforçados!
Uma estratégia interessante que um CSF da cidade em que trabalho desenvolveu foi presentear as mulheres que fizeram prevenção com uma rosa artesanal. Apesar de se tratar de uma atividade simples e de baixo controle do comportamento de outras mulheres aderirem a Campanha, a rosa poderá servir de SD para relembrar as mulheres da residência de se manterem atentar a condição de saúde mamária. Além de que, poderá promover um vínculo entre a instituição de saúde e população assistida, já que a maioria de nós teve os comportamentos de ser presenteado/presentear reforçado por controle social como uma relação de afeto e respeito entre pares que se importam uns com os outros.
Sendo assim, esperamos que esta postagem sirva também de meio de sensibilização de behavioristas a se prevenirem e promover cuidado!
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