Não, você não se enganou de blog! Porém, não iremos falar de Raul Seixas ou Aleister Crowley, iremos apenas apresentar um outra perspectiva do Behaviorismo Radical que você, talvez, ainda não conheça.
Quando falamos a alguém dos cursos de Psicologia que somos Analistas do Comportamento, qual é a primeira coisa que pode vir a cabeça desta pessoa? Já fizeram este teste? Normalmente, o que vem a suas cabeças é a imagem de um laboratório cheio de fios, alavancas, gaiolas e ratinhos, não é?!
Querendo ou não, este é o esteriótipo que reforçamos em nossas práticas diárias frente aos demais colegas de faculdade, afinal, produzimos ciência básica em laboratórios... Mas nem só de ratos e pombos se faz a filosofia Behaviorista Radical. E foi por isso que eu vim aqui falar da nova Tekpix.
Para quem não sabe, Skinner escreveu um livro sobre uma sociedade utópica baseada nos princípios analíticos-comportamentais. O nome deste livro é Walden II e faz referência direta a Walden, de Alain Thorneau, o mesmo autor de Desobediência Cívil. Porém, Walden de Thorneau era um projeto para um único homem desenvolver e recairia em meio a um individualismo. Já o Walden de Skinner seria uma utopia para mais de um homem... Para uma comunidade!
No período em que Walden II foi escrito, era um período entre guerras, as pessoas viviam mudanças sociais intensas e raivosas, não havia muita solidariedade entre os moradores das grandes cidades, etc. Diversos autores, filósofos, músicos, teóricos, teólogos, gurus e outros charlatões do além, praticamente, todos buscavam opções para nossa sociedade. Os modelos de sociedade Capitalista levavam a um imenso individualismo e o Socialismo vigente eram os regimes totalitários, que não respeitavam os indivíduos.
Foi neste contexto que nasceram alguns movimentos alternativos muito importantes para a história... Normalmente conhecidos como Contracultura.
Bem, apesar das anti-propagandas sobre o Behaviorismo vinculadas a filmes como Laranja Mecânica, livros como Admirável Mundo Novo e 1984, de Goerge Owell, pregarem uma visão deturpada de Behaviorismo relacionado a opressão social e manipulação coersitiva: o Behaviorismo Radical é uma teoria extremamente vinculada a preocupações com o bem-estar e futuro da humanidade.
Walden II é este livro que pode simbolizar a perspectiva social mais abrangente do Behaviorismo, apesar de limitar tal trabalho a uma comunidade de mil pessoas. No seu livro, Skinner traz os 5 princípios defendidos por Thorneau junto aos seus 5 princípios, que darão os contornos menos individualistas de sua sociedade utópica. Para não ficar na curiosidade, citando:
1. Nenhum modo de vida é inevitável. Examine o seu próprio de perto.
2. Se você não gosta dele, mude-o.
3. Mas não tente transformá-lo através de uma ação política [política formal]. Mesmo que você consiga ganhar o poder, não poderá usá-lo mais sabiamente que seus predecessores.
4. Peça somente que o deixem em paz, para resolver os seus problemas a seu modo.
5. Simplifique suas necessidades. Aprenda como ser feliz com menos posses.
6. Construa um modo de vida no qual as pessoas vivam juntas sem brigar, num clima social de confiança ao invés de suspeita, de amor ao invés de ciúmes, de cooperação ao invés de competição.
7. Mantenha este mundo com sanções éticas brandas, mas efetivas, ao invés de política ou força militar.
8. Transmita a cultura eficazmente aos novos membros através de cuidados especializados às crianças e de uma tecnologia educacional poderosa.
9. Reduza o trabalho compulsivo ao mínimo, dispondo os tipos de incentivo sob os quais as pessoas apreciam trabalhar.
10. Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja preparado par mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.
E foi se apropriando destas ideias e outras mais nas obras de Skinner que algumas comunidades baseadas em Walden II nasceram. Entre elas, as duas comunidades que apresentaremos uma pequena coleção de fotos, mas que os desavisados indicariam como Grupos de Encontro rogerianos. Mas não, não se trata disso, são as comunidades Los Horcones e Twin Oak Community, respectivamente localizadas no México e nos Estados Unidos.
Essas comunidades só puderam existir porque a escrita de Skinner não pressupunha uma comunidade que ocorreria apenas em um futuro longínquo, em meio a condições ideais e de modo perfeito, absoluto e imutável. O projeto de sociedade skinneriano é um projeto contemporâneo, viável de se construir, não pressupõe condições ideais ou cultura perfeita, mas indica que é possível analisarmos nossa realidade de perto, por meio das ciências do comportamento, e experimentar novas formas de organização social. Skinner nos convida a experimentar novos projetos de vida e vida em sociedade!
Bom, mas como saber se um modelo de sociedade é ou não interessante? Para saber se um modelo de sociedade é interessante não basta que verifiquemos que as pessoas sintam-se felizes ou sintam-se livres. Para tanto, basta lembrar o modelo histórico romano do panis et circenses. O controle que, aparentemente, era de felicidade das massas, era uma felicidade fugaz, que acarretava em percas a longo e curto prazo, acarretando em excesso de contenção social por meio de violência física, baia qualidade de vida, e inexistência de mobilidade social...
Skinner defende que uma sociedade interessante deve se pautar em valores de sobrevivência da Cultura, não prendendo-se apenas aos subprodutos de um controle social reforçador (felicidade, prazer, alegria), mas também as consequências das práticas que mantemos a longo prazo, voltados para a sobrevivência dos membros que praticam esta cultura.
Por exemplo: ter acesso a bens de consumo, hoje, não se limita a uma determinada classe dominante, mas a velocidade em que consumimos é quase proporcional a velocidade a que descartamos. O subproduto do acesso aos bens de consumo nos é prazerosa a curto prazo, o que para a maioria das literaturas da liberdade seria o suficiente para uma sociedade ideal. Porém, o modo pelo qual ocorreria o descarte dos bens consumidos (e tidos como ultrapassados) não foi planejado e acaba por poluir o meio ambiente, que é suporte para que existamos plenamente no planeta terra. Então, esta pratica apesar de ser muito relacionada a liberdade de consumo e a felicidade de usá-los, traz em si consequências a longo prazo que são problemáticas a nossa existência enquanto seres vivos.
E tem gente que ainda diz que Ciência é negócio chato. Não dá possibilidade de discutir Política... |
Assim, nós, behavioristas radicais, herdamos o desafio skinneriano de planejar novas contingências que modelem nossas relações comportamentais em direção a uma sociedade mais solidária e baseada no respeito mútuo. Segue, assim, mais imagens das comunidade supracitadas:
Los Horcones
Twin Oak Community
Felizmente, há muitas possibilidades de diálogo a serem travados quanto o romance utópico de Skinner e esta postagem, definitivamente, não busca esgotar aqui todas as temáticas que podem ser analisadas neste. Então fica o convite de leitura: Experimente!
Para mais informações sobre estas comunidades, só acessar seus links:
Los Horcones
Twin Oak Community
Créditos especiais: Dissertação de Mestrado de Luana Flor e revisão do texto de Jonas, o monge misterioso.
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