terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Uso de Capacete e Prevenção de Acidentes: pontuações comportamentais


Hoje, vamos falar um pouco mais dos motivos pelos quais costumamos não aprender ou manter Repertórios Comportamentais interessantes para o nosso bem-estar e para o bem-estar da comunidade. Como ilustração, falarei de um ocorrido do meu cotidiano envolvendo o uso de capacete.

Certo dia, em meio minhas atividades profissionais, uma colega de trabalho estava com uma cicatriz no queixo e perguntei o motivo. Outra colega respondeu que foi por conta de um acidente de moto, porém ela estava usando capacete, mas não não havia travado ele. Quando a colega com cicatriz foi saindo, a outra brincou: só assim pra tu aprender a travar o capacete quanto tu vai usar, né!?

Como já foi falado em outra postagem (link), somos mais sensíveis às Contingências Imediatas do que às Contingências Atrasadas, por isso é tão complicado construir intervenções que promovam Comportamentos Preventivos de modo eficazes. Afinal, o comportamento-problema ocorre porque há uma consequência imediata e que tal consequência deve ser reforçada por um estímulo de magnitude significativa para manutenção de sua prática.


No caso do episódio do capacete, a colega profissional utilizava capacete, mas não travava como nos é orientado em função de nossa própria segurança. Após ela se expor ao contexto aversivo, no entanto, ela passou a travar o capacete antes de sair em sua moto. Alguns motivos pelos quais não se utiliza capacete ou mesmo não se trave ele são: desconforto, cheiro ruim do capacete (há que não saiba fazer manutenção) ou mesmo não desfazer o penteado. Como vemos, o uso inadequado ou não uso de capacete está relacionado a contingências de Reforçamento Negativo, porém, foi o mesmo tipo de contingência que instalou o repertório adequado na colega. É importante frisar, no entanto, que a contingência aversiva vivida durante o acidente era de maior magnitude e por este motivo sobrepujou a outra contingência de reforçamento aversivo anterior, de menor magnitude de estimulação aversiva.

Porém, por questão de sobrevivência, não é interessante que todos nós passemos pela contingência aversiva para aprendemos a nos esquivar das suas possíveis consequências, é preciso instalar Comportamentos preventivos. No entanto, o principal meio pelo qual nos utilizamos é o uso de Regras e, nem sempre, o uso de regras é tão efetivo quanto a exposição direta às contingências... Então, temos um dilema! (Mais na frente apresentaremos uma saída interessante)


ADENDO: Durante uma pesquisa sobre avaliação neuropsicológica a partir da perspectiva analítico-comportamental na cidade de Sobral - CE, os colegas pesquisadores perceberam que, apesar de os acidentados sofrerem Traumatismo Craniano Encefálico (TCE), ou seja, se expuseram violentamente ao contexto aversivo, muitos deles estavam sendo atendidos pela segunda vez na ala de emergência por uso imprudente de moto no trânsito. Ou seja, temos um dado interessante, mas que precisa de dados mais contundentes, que a simples exposição ao contexto aversivo não é o suficiente para instalar um repertório de esquiva/prevenção de acidentes.

Povo cabeça-dura né?!
Quanto ao Comportamento Verbal, ele é emitido pela comunidade tem valor significativo para a nossa sobrevivência individual e cultural quando descreve de maneira precisa as contingências e prescreve comportamentos adequados e, assim, não precisamos nos expor diretamente a um contexto aversivo para aprendemos que é melhor evitá-lo. Por exemplo, o uso de símbolo de caveira para sinalizar que não devemos ingerir determinado produto. No entanto, muitas das vezes a simples emissão de uma Regra (comportamento verbal) não é o suficiente para que nós nos engajemos em um comportamento interessante para nossa sobrevivência ou bem-estar, principalmente se há outras variáveis anteriores a intervenção que já mantêm o comportamento inadequado. 

"Palavras são vento"

Além disso, muitas vezes as consequências que manterão o comportamento controlado por regras são muito atrasadas e carecemos de outros meios de reforçamento imediato que promovam a manutenção deste repertório. Muitas vezes a contingência imediata utilizada é o Controle Ético da Comunidade. Porém, este controle ético se faz principalmente por meio de Controle Aversivo, como o uso de multas e perca de pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Assim, o controle aversivo tem efeitos colaterais, e dentre eles poderá gerar comportamentos de Contracontrole, como diminuir velocidade apenas quando estiver próximo a um radar eletrônico ou, mesmo, informando aos amigos sem CNH onde estão ocorrendo Blitz.


Bom, e o que podemos fazer se a exposição as contingências pode ser fatal ou incapacitante e o uso de regras é de baixa eficácia? A resposta que propomos é o ensino do uso de capacete e outros comportamentos adequados no trânsito em terna idade por meio de Atividades Lúdicas. Porém, o planejamento destas atividades devem levar em conta quais são os principais comportamentos a serem treinados, se o comportamento pode ser decomposto em outras atividades menores, se há possibilidade de planejar e desenvolver as atividades em tempo hábil no seu contexto de trabalho e se há possibilidade de treinar tais habilidades em contextos mais próximos das contingências a que as crianças se exporão no futuro, como atravessar na faixa de pedestres.

Por exemplo, criar uma cidade com ruas fictícias na quadra da escola e brincar de trânsito ou que as crianças são super-heróis que usam capacetes, como Power Ranger, ou que são pilotos profissionais de Formula 1 ou de Motocross, posto que, pressupomos que sejam modelos de comportamentos reforçadores.


Acredito que tais atividades sejam bem operacionalizáveis em ambientes Escolar e de Assistência Social, nos Centros de Referência de Assistência Social, talvez com o recorte de uma Semana do Trânsito. Para finalizar, segue algumas imagens retiradas do Google Images:


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