Um das grandes contribuições skinnerianas, sem dúvida, foi
explicar de modo coerente como o Behaviorismo Radical explica agirmos de acordo
com um pensamento ou regra social sem apelar para eventos mentais e místicos. Sendo
assim, a primeira postagem de 2016 será dedicada a esta classe de
comportamentos. Com vocês: seguir regras!
Seguir regras é definido como comportamento que ocorre
sobre o controle discriminativo de um antecedente verbal que identifica todas
ou parte das contingências envolvidas com o comportamento-alvo. Por exemplo,
quando alguém diz “João, se você pegar na panela quente, você irá se queimar”,
esta pessoa especifica o contexto panela quente, o comportamento tocar na panela e a consequência se queimar. No entanto, nem toda regra é tão clara e específica.
Quando as regras especificam contingências próximas, o
próprio contato direto com o ambiente dará condições de instalar e manter o
seguimento de regras. No entanto, quando as regras tratarem de contingências muito
tardias, a simples apresentação da regra não será suficiente para que outra
pessoa se comporte de acordo. Sendo assim, é necessário que haja algum controle
mais imediato que estabeleça consequências adequadas para instalar e manter o
seguimento de regra. Esta consequência imediata normalmente é de natureza
social.
Seguimento de regras nos proporcionou algumas vantagens
comportamentais, como:
1. Aprendizado mais rápido de alguns comportamentos;
2. Maior capacidade de generalização dos repertórios a
outros contextos;
3. Facilitou aprendizado de contingências muito complexas,
que demorariam mais tempo se dependessem apenas do aprendizado individual, como
especialidades profissionais; e
4. Torna pouco necessário o contato direto com contingências
aversivas e, em alguns casos, letais para que aprendamos a nos esquivar e fugir
de tais contextos.
No entanto, o seguimento de regras também tem desvantagens.
Neste caso, a principal desvantagem é a insensibilidade
às contingências. Quando alguém aprende a se comportar de determinada
maneira a partir de regras, o comportamento dela tenderá a ser estereotipado e
demorará mais a responder de acordo com as mudanças ambientais. Por exemplo,
algumas mulheres são instruídas a fazerem determinados cuidados com seus bebês,
pois segundo os mais antigos aquela prática seria benéfica ou espantaria algum
mal. Porém, com o avanço da saúde pública, algumas destas práticas podem está
obsoletas e causar mal-estar aos bebês, mas a mães se recusam a deixar de
seguir o costume popular.
As regras podem ter duas classificações: aquiescentes e
instrucionais. Quando tratamos de regras
aquiescentes, estamos falando de regras que seu controle será
exclusivamente social. Quando tratamos de regras
de rastreamento, estamos falando de
regras que seu maior controle será físico. Por exemplo, regras de etiqueta são
um exemplo de regra aquiescente, enquanto a descrição de como usar uma maquina fotográfica
será instrucional. Desta maneira, regras de rastreamento podem ser mais
precisas do que aquiescente, pois o ambiente físico é menos mutável do que o
ambiente social.
Outro ponto importante de ressaltar é que a efetividade do
seguimento de regras aquiescentes dependerá bastante do histórico de interação
social entre falante e ouvinte. Por exemplo, digamos que Ana conhece Bia e
Carla. Bia deu algumas dicas de como se vestir, no entanto amigos não elogiaram
muito. Enquanto isso, Carla deu outras dicas e desta vez Ana recebeu muitos
elogios. Digamos que ao longo de meses de interação e dicas, Carla acertou mais
vezes. Será mais provável que Ana siga as dicas de Carla do que de Bia, mesmo
quando Bia descreva com maior precisão determinadas contingências. Sendo assim,
densidade de reforço nas interações
influenciará seguir ou não determinadas regras enunciadas por uma pessoa.
Outras circunstâncias que influenciam diretamente no
seguimento de regra são:
1. Capacidade de monitoramento social;
2. Capacidade dos agentes sociais cumprirem as consequências
previstas;
3. Importância para o sujeito ou magnitude da consequência
prevista;
4. Confiabilidade no agente social; e
5. Importância das consequências para outros comportamentos
de seguir regras.
Auto-regra formulada e modificada para sobrevivência no Apocalipse Zumbi- Filme Zombieland |
Concluindo, podemos perceber que durante todo o texto não
foi preciso apelar para nenhuma estrutura interna, mental ou mística que
modulasse a importância de seguir determinadas regras a detrimento de outras. É
possível para um analista do comportamento explicar de modo coerente e elegante
como podemos seguir regras. Futuramente, esperamos que este texto possa dar
suporte a outras discussões mais aprofundadas e tenha sido instrutivo. Talvez,
num futuro próximo, tratemos de mudanças e manutenção de paradigmas socais e
suas relações com seguimento de regras aquiescentes.
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