sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

"Por que seguimos regras?" - uma perspectiva comportamental


Um das grandes contribuições skinnerianas, sem dúvida, foi explicar de modo coerente como o Behaviorismo Radical explica agirmos de acordo com um pensamento ou regra social sem apelar para eventos mentais e místicos. Sendo assim, a primeira postagem de 2016 será dedicada a esta classe de comportamentos. Com vocês: seguir regras!

Seguir regras é definido como comportamento que ocorre sobre o controle discriminativo de um antecedente verbal que identifica todas ou parte das contingências envolvidas com o comportamento-alvo. Por exemplo, quando alguém diz “João, se você pegar na panela quente, você irá se queimar”, esta pessoa especifica o contexto panela quente, o comportamento tocar na panela e a consequência se queimar. No entanto, nem toda regra é tão clara e específica.

Quando as regras especificam contingências próximas, o próprio contato direto com o ambiente dará condições de instalar e manter o seguimento de regras. No entanto, quando as regras tratarem de contingências muito tardias, a simples apresentação da regra não será suficiente para que outra pessoa se comporte de acordo. Sendo assim, é necessário que haja algum controle mais imediato que estabeleça consequências adequadas para instalar e manter o seguimento de regra. Esta consequência imediata normalmente é de natureza social.


Seguimento de regras nos proporcionou algumas vantagens comportamentais, como:
1. Aprendizado mais rápido de alguns comportamentos;
2. Maior capacidade de generalização dos repertórios a outros contextos;
3. Facilitou aprendizado de contingências muito complexas, que demorariam mais tempo se dependessem apenas do aprendizado individual, como especialidades profissionais; e
4. Torna pouco necessário o contato direto com contingências aversivas e, em alguns casos, letais para que aprendamos a nos esquivar e fugir de tais contextos.

No entanto, o seguimento de regras também tem desvantagens. Neste caso, a principal desvantagem é a insensibilidade às contingências. Quando alguém aprende a se comportar de determinada maneira a partir de regras, o comportamento dela tenderá a ser estereotipado e demorará mais a responder de acordo com as mudanças ambientais. Por exemplo, algumas mulheres são instruídas a fazerem determinados cuidados com seus bebês, pois segundo os mais antigos aquela prática seria benéfica ou espantaria algum mal. Porém, com o avanço da saúde pública, algumas destas práticas podem está obsoletas e causar mal-estar aos bebês, mas a mães se recusam a deixar de seguir o costume popular.

As regras podem ter duas classificações: aquiescentes e instrucionais. Quando tratamos de regras aquiescentes, estamos falando de regras que seu controle será exclusivamente social. Quando tratamos de regras de rastreamento, estamos falando de regras que seu maior controle será físico. Por exemplo, regras de etiqueta são um exemplo de regra aquiescente, enquanto a descrição de como usar uma maquina fotográfica será instrucional. Desta maneira, regras de rastreamento podem ser mais precisas do que aquiescente, pois o ambiente físico é menos mutável do que o ambiente social.


Outro ponto importante de ressaltar é que a efetividade do seguimento de regras aquiescentes dependerá bastante do histórico de interação social entre falante e ouvinte. Por exemplo, digamos que Ana conhece Bia e Carla. Bia deu algumas dicas de como se vestir, no entanto amigos não elogiaram muito. Enquanto isso, Carla deu outras dicas e desta vez Ana recebeu muitos elogios. Digamos que ao longo de meses de interação e dicas, Carla acertou mais vezes. Será mais provável que Ana siga as dicas de Carla do que de Bia, mesmo quando Bia descreva com maior precisão determinadas contingências. Sendo assim, densidade de reforço nas interações influenciará seguir ou não determinadas regras enunciadas por uma pessoa.

Outras circunstâncias que influenciam diretamente no seguimento de regra são:
1. Capacidade de monitoramento social;
2. Capacidade dos agentes sociais cumprirem as consequências previstas;
3. Importância para o sujeito ou magnitude da consequência prevista;
4. Confiabilidade no agente social; e
5. Importância das consequências para outros comportamentos de seguir regras.

Auto-regra formulada e modificada para sobrevivência no Apocalipse Zumbi- Filme Zombieland
Concluindo, podemos perceber que durante todo o texto não foi preciso apelar para nenhuma estrutura interna, mental ou mística que modulasse a importância de seguir determinadas regras a detrimento de outras. É possível para um analista do comportamento explicar de modo coerente e elegante como podemos seguir regras. Futuramente, esperamos que este texto possa dar suporte a outras discussões mais aprofundadas e tenha sido instrutivo. Talvez, num futuro próximo, tratemos de mudanças e manutenção de paradigmas socais e suas relações com seguimento de regras aquiescentes.

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