Hoje é dia de escrever texto poético sobre Behaviorismo
Radical. É dia de me permitir falar sobre os motivos que me fazem apaixonado
pela Análise do Comportamento. Vamos falar da sua visão de homem e mundo!
Talvez, por conta do seu viés estritamente experimental,
seja difícil reconhecer que há todo um refinamento filosófico e, que chega a
ser, poético por trás da Análise do Comportamento. O uso preciso de termos
pouco convencionais para explicação da subjetividade humana (e de outros
animais) pode tornar a leitura de textos behavioristas radicais, no mínimo,
estranha aos leigos.
No entanto, quando vamos discutir sobre a visão de homem e
mundo do Behaviorismo Radical, nos deparamos com uma poética filosófica das
mais lindas, ricas e pragmáticas. Este texto pode ser resumido em: subjetividade
é relação, mais precisamente, relação entre homem e seu mundo! Não há como
compreender os fenômenos humanos se os desvincularmos de seu mundo. Não há como
compreender o mundo desvinculado-o das relações humanas. Há uma relação íntima e
singular entre o que fazemos/somos e o que nos leva a fazer/ser no mundo.
Por exemplo, quando nomeamos determinada coisa com um
adjetivo não estamos descrevendo uma natureza intrínseca ao fenômeno. Apenas
estamos nomeando tal fenômeno a partir de relações anteriores, com fenômenos
similares, que nos foram ensinados a chamar assim. Sendo mais específico: saudade é um sentimento propriamente
brasileiro, porque há relações comportamentais muito íntimas ensinadas desde a
mais terna infância que nos fazem perceber determinados estados corporais em
detrimento de outros e nomeá-los de saudade. Não há como explicar o que é
saudades sem que recorramos a contar uma história (comportamental). Por
exemplo, se eu disser que sinto saudades de uma coisa "x" que não
faça parte da cultura de um amigo, possivelmente ele perguntará porque eu sinto
saudades de "x". Diferentemente, se eu disser que sinto saudades da
minha família, será menos provável que alguém estranhe, pois a explicação para
tal comportamento é socialmente acessível.
As explicações behavioristas para homem e mundo são um
contraste filosófico, um contracenso, para o que se está acostumado a entender
em outras filosofias. Assim, por mais que algo seja simples e comum para uma
comunidade verbal, ela ainda assim terá que ser explicada a partir das relações
singulares entre um homem e seu mundo. Behaviorismo Radical é um convite a não
acomodação a qualquer tipo de explicação já posta e é também um convite à
verificar toda e qualquer relação singular que leve o sujeito a se comportar de
tal modo sobre seu mundo (o que incluí compreender porque ele entende o mundo
de uma forma e não de outra).
Behaviorismo Radical leva ao extremo a compreensão
materialista de que o homem modifica seu meio e é modificado por ele, que há um
contínuo histórico entre organismo biológico, relações pessoais e relações socioculturais.
É levado ao extremo a compreensão de que somos homens e mulheres de nosso mundo
com as abrangências e limitações de nosso tempo. É levado ao extremo a compreensão
de que não há verdade absoluta, que estamos em constante mudança, mesmo que
sejam as mais sutis. É levado ao extremo o posicionamento político de que não
devemos nos conformar com determinadas condições pessoais e sociais (bem como
suas possíveis explicações), pois não há nada de imutável quando se trata de
comportamento. É possível mudar nosso mundo, e mudar nosso mundo significa
agirmos diferente sobre ele.
Como já foi dito, é difícil de enxergar esta nuance tão
delicada e poética do Behaviorismo Radical quando estamos imersos nos conceitos
básicos de laboratório. Mas são tais conceitos que dão suporte a possibilidade
de mudar nosso mundo, de mudar nossas formas de nos relacionarmos com o mundo,
de maneira mais profunda e eficaz. Não são nossos conceitos que tornarão nossa
filosofia mais ou menos profunda, será o quão pudermos compreender as nossas
relações comportamentais e modificá-las que nos dará tal condição. E eu
pergunto: de que adianta uma linguagem filosófica extremamente poética e
rebuscada sem que, com ela, venham mudanças no mundo? A maioria dos analistas
do comportamento estão interessados em melhorar nosso mundo. A poética do
behaviorista radical está em "amar e mudar as coisas", como diz a
música de Belchior. A nossa poética está em compreender o que impede que um
sorriso brote e, assim, fazer com que tal sorriso possa ocorrer!
Não é difícil amar o Behaviorismo Radical quando se tem este
horizonte transformador. Behaviorismo Radical não é uma filosofia paralisante,
passiva diante dos desafios. Há determinadas correntes filosóficas que defendem
que há algo de místico e impossível de ser compreendido nos fenômenos do mundo.
Tais correntes nos afastam e abandonam a possibilidade de mudar nossas relações
com o mundo, em detrimento de um rebuscamento obscuro... Behaviorismo Radical é
uma filosofia do convite às mudanças, de que tudo é possível de ser explicado e
modificado, de que não há condição de sofrimento humano que não possa ser
diminuída. Quando está claro que sofrimento é uma relação entre homem e mundo,
sabemos pra onde olhar, sabemos que há coisas ao nosso alcance, que podemos
ajudar as pessoas a serem felizes!
Sendo assim, reforço meu convite: deixe-se encantar pelo
Behaviorismo Radical, pela Análise do Comportamento. Sinta-se acolhido por uma
filosofia combativa das posturas paralisantes e acomodadas. Sinta-se acolhido
por uma filosofia transformadora e que não descarta os contrastes histórico-culturais.
Sinta-se parte de uma comunidade interessada em amar e mudar as coisas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário