Vamos falar um pouquinho sobre este tema que, infelizmente,
ainda é tratado como tabu e muita polêmica numa visão analítico-comportamental: Sexo!
É comum imaginar que o comportamento sexual é determinado
apenas ou principalmente pelo nível biológico, posto que se trata de um
comportamento estritamente relacionado com a reprodução (logo transmissão
genética e sobrevivência de espécies). No entanto, assim como diversos outros
comportamentos, sexo envolve todos os três níveis de seleção: filogênico,
ontogênico e sociogênico.
O nível filogenético
pode ser reduzido, de modo didático, a determinação genética dos órgãos
envolvidos, não restritos as genitálias, afinal é o organismo como um todo que
está envolvido no comportamento sexual, como sistema respiratório e
circulatório, não apenas reprodutor. Agora, de modo mais específico, há uma
série de respostas inatas envolvidas
no processo, como ereção peniana e critoriana, aumento da circulação sanguínea
na região genital, lubrificação vaginal, respiração ofegante etc. Deste modo,
estímulos incondicionados como contato tátil nas regiões erógenas eliciam tais respondentes emocionais.
A nível ontogenético,
seguindo os exemplos anteriores, alguns estímulos neutros (quarto escuro), após
sucessivas apresentações pareadas aos estímulos incondicionados (contato tátil),
podem adquirir função eliciadora de
mesmas respostas (excitação sexual). Assim, o condicionamento clássico explica como pessoas podem ficar excitadas
sobre controle de estímulos arbitrários aos envolvidos nos reflexos emocionais.
Ou seja, condicionamento pavloviano
pode nos ajudar a compreender certas parafilias[1].
Imagem referente ao filme "Love" |
Além dos comportamentos respondentes, atos sexuais envolvem
uma série de comportamentos operantes,
que são selecionados a partir de modelagem
e modelação. Ou seja, algumas
pessoas podem aprender a desempenhar determinada performance sexual devido a
exposição direta (tentativa-e-erro) enquanto outra pessoa pode aprender
determinada performance a partir de modelos visuais ou leituras sobre o que fazer.
Caso os comportamentos emitidos sejam adequados a interação social, a outra
pessoa reforçará este comportamento de modo intencional ou não. Por exemplo, a
pessoa pode emitir gemidos de prazer que, por sua vez, funcionam como estimulo
reforçador para determinada performance sexual da outra pessoa.
O nível sociogenético
envolverá a sutileza do controle social.
Os grupos sociais disporão de diversos modelos e regras de conduta desejáveis a
que as pessoas se submetessem. Tais modelos e regras podem envolver desde tabus
religiosos, como castidade e orientação sexual, como refinamentos
performáticos, como uso de fantasias e meios não convencionais de prazer, como
bondage[2].
Imagem referente ao filme "Ninfomaníaca", exemplo de bondage. |
Deste modo, ao relacionarmos todos estes três níveis de
seleção do comportamento, temos repertórios sexuais muito singulares e
diversificados. Assim, cada ato sexual será um evento único no universo, tanto
devido às singularidades de cada pessoa como à existência evanescente do
comportamento. No entanto, devido a uma série de condições sociais e
interpessoais, diversas queixas sexuais chegam às clínicas de psicologia e, nem
sempre, há profissionais capazes de entender e intervir diante de tal fenômeno. Assim, esperamos que a postagem tenha aberto caminhos para compreensão
analítico-comportamental do ato sexual de modo didático e que tenham criado
interesse de estudar sobre a sexualidade e terapias sexuais.
Finalizo com um pedido de desculpas caso tenha achado esta postagem curtinha demais. Mas, entenda, como trata-se de um tema delicado, é necessário cautela (o que inclui escolha seletiva das imagens). Sendo assim, caso seja de seu interesse que haja mais postagens sobre o assunto, é só dar um feedback positivo. Se tiver curiosidade sobre determinada queixa sexual, podemos pensar numa postagem específica. Se tem interesse sobre viés cultural influenciando o comportamento sexual, também podemos pensar no assunto. Até mais!
Poderia me indicar alguma bibliografia da análise comportamento referente a sexualidade. Qual a concepção de sexualidade na filosofia behaviorista e como é trabalhada, o que aparece, digamos assim, na clinica analítico comportamental.
ResponderExcluirSe puder mandar no meu e-mail wevertonbicalho@gmail.com
ResponderExcluirGOSTEI DO ARTIGO, POIS TUDO QUE QUEBRA TABU EU APOIO
ResponderExcluirtemática extremamente importante para ser discutida, muito bacana.
ResponderExcluirem um próximo artigo poderia se tratar do controle sexual que advém da sociedade e molda as formas de se praticar o comportamento sexual.
Pode explicar como a parafilia está relacionada com o comportamento Pavloviano de forma mais didática?
ResponderExcluirFicaria grata.