terça-feira, 3 de maio de 2016

Comportamento Sexual e Análise do Comportamento: breve introdução


Vamos falar um pouquinho sobre este tema que, infelizmente, ainda é tratado como tabu e muita polêmica numa visão analítico-comportamental: Sexo

É comum imaginar que o comportamento sexual é determinado apenas ou principalmente pelo nível biológico, posto que se trata de um comportamento estritamente relacionado com a reprodução (logo transmissão genética e sobrevivência de espécies). No entanto, assim como diversos outros comportamentos, sexo envolve todos os três níveis de seleção: filogênico, ontogênico e sociogênico.


O nível filogenético pode ser reduzido, de modo didático, a determinação genética dos órgãos envolvidos, não restritos as genitálias, afinal é o organismo como um todo que está envolvido no comportamento sexual, como sistema respiratório e circulatório, não apenas reprodutor. Agora, de modo mais específico, há uma série de respostas inatas envolvidas no processo, como ereção peniana e critoriana, aumento da circulação sanguínea na região genital, lubrificação vaginal, respiração ofegante etc. Deste modo, estímulos incondicionados como contato tátil nas regiões erógenas eliciam tais respondentes emocionais.

A nível ontogenético, seguindo os exemplos anteriores, alguns estímulos neutros (quarto escuro), após sucessivas apresentações pareadas aos estímulos incondicionados (contato tátil), podem adquirir função eliciadora de mesmas respostas (excitação sexual). Assim, o condicionamento clássico explica como pessoas podem ficar excitadas sobre controle de estímulos arbitrários aos envolvidos nos reflexos emocionais. Ou seja, condicionamento pavloviano pode nos ajudar a compreender certas parafilias[1].

Imagem referente ao filme "Love"

Além dos comportamentos respondentes, atos sexuais envolvem uma série de comportamentos operantes, que são selecionados a partir de modelagem e modelação. Ou seja, algumas pessoas podem aprender a desempenhar determinada performance sexual devido a exposição direta (tentativa-e-erro) enquanto outra pessoa pode aprender determinada performance a partir de modelos visuais ou leituras sobre o que fazer. Caso os comportamentos emitidos sejam adequados a interação social, a outra pessoa reforçará este comportamento de modo intencional ou não. Por exemplo, a pessoa pode emitir gemidos de prazer que, por sua vez, funcionam como estimulo reforçador para determinada performance sexual da outra pessoa.

O nível sociogenético envolverá a sutileza do controle social. Os grupos sociais disporão de diversos modelos e regras de conduta desejáveis a que as pessoas se submetessem. Tais modelos e regras podem envolver desde tabus religiosos, como castidade e orientação sexual, como refinamentos performáticos, como uso de fantasias e meios não convencionais de prazer, como bondage[2].

Imagem referente ao filme "Ninfomaníaca", exemplo de bondage.

Deste modo, ao relacionarmos todos estes três níveis de seleção do comportamento, temos repertórios sexuais muito singulares e diversificados. Assim, cada ato sexual será um evento único no universo, tanto devido às singularidades de cada pessoa como à existência evanescente do comportamento. No entanto, devido a uma série de condições sociais e interpessoais, diversas queixas sexuais chegam às clínicas de psicologia e, nem sempre, há profissionais capazes de entender e intervir diante de tal fenômeno. Assim, esperamos que a postagem tenha aberto caminhos para compreensão analítico-comportamental do ato sexual de modo didático e que tenham criado interesse de estudar sobre a sexualidade e terapias sexuais.


Finalizo com um pedido de desculpas caso tenha achado esta postagem curtinha demais. Mas, entenda, como trata-se de um tema delicado, é necessário cautela (o que inclui escolha seletiva das imagens). Sendo assim, caso seja de seu interesse que haja mais postagens sobre o assunto, é só dar um feedback positivo. Se tiver curiosidade sobre determinada queixa sexual, podemos pensar numa postagem específica. Se tem interesse sobre viés cultural influenciando o comportamento sexual, também podemos pensar no assunto. Até mais!




[1] Parafilias podem ser definidas como padrão de comportamento sexual cuja obtenção de prazer não está diretamente relacionado a cópula, mas numa atividade alternativa.
[2] Bondage é um fetiche específico relacionado a práticas que envolvem imobilização e podem não envolver copula

5 comentários:

  1. Poderia me indicar alguma bibliografia da análise comportamento referente a sexualidade. Qual a concepção de sexualidade na filosofia behaviorista e como é trabalhada, o que aparece, digamos assim, na clinica analítico comportamental.

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  2. Se puder mandar no meu e-mail wevertonbicalho@gmail.com

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  3. GOSTEI DO ARTIGO, POIS TUDO QUE QUEBRA TABU EU APOIO

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  4. temática extremamente importante para ser discutida, muito bacana.
    em um próximo artigo poderia se tratar do controle sexual que advém da sociedade e molda as formas de se praticar o comportamento sexual.

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  5. Pode explicar como a parafilia está relacionada com o comportamento Pavloviano de forma mais didática?
    Ficaria grata.

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