domingo, 22 de junho de 2014

Jornadas de Junho: uma visão behaviorista


Já faz um ano que várias manifestações ocorreram em todo o Brasil. Estas foram manifestações plurais, cujas reivindicações e coletivos não eram homogêneos ou, sequer, seguiam uma organização centralizada, seja na figura de um partido, seja na figura de um líder. Mesmo assim, apresentaremos algumas contingências que estiveram relacionadas com o fenômeno das Jornadas de Junho de 2013.

Como sabemos, o comportamento humano é multideterminado, não havendo uma causa específica para cada comportamento. O que temos é o controle de vários estímulos e a partir do nosso histórico de reforçamento nos comportamentos. Ou seja, por mais que houvesse Contingências Aversivas claras que controlavam o comportamento das pessoas irem as ruas, também haviam Contingências de Reforçamento social, como grupos políticos, escolares, etc.

Ou seja, um controle de contingencial não exclui o outro: podemos trabalhar para conseguir dinheiro para comprar um XBox ao mesmo passo que também trabalhamos para pagar as contas do mês anterior. A classe de comportamento trabalhar está sob controle de ambas as contingências.


Algumas das Contingências Aversivas que controlaram os comportamentos dos manifestantes foram:
  • Aumento da inflação;
  • Investimentos exorbitantes nas obras da Copa;
  • Em contrapartida, baixo investimento em obras de infraestrutura dos serviços públicos;
  • Sucateamento da Educação e Saúde;
  • Aumento do preço das passagens de transporte público;
  • Truculência policial desproporcional as manifestações; e
  • Posicionamentos tacanhos de figuras públicas.

Os comportamentos de Contracontrole que ocorreram, e podemos pontuar, foram:
  • Aumento do número de manifestantes;
  • Mobilização de manifestações em outras regiões do país, fora São Paulo;
  • Cartazes bem humorados;
  • Mobilização e divulgação dos locais e horário das manifestações via redes sociais; e
  • Troca de violência com policiais truculentos.
Originalmente, esta postagem foi uma apresentação oral no Encontro da ABPMC, de 2013, e um dos objetivos do trabalho era mostrar que não era o "estar consciente" que fez com que as pessoas fossem as ruas se manifestar, afinal dizer que agimos porque estávamos conscientes é uma forma de Mentalismo. Como sabemos, um dos grandes inimigos do planejamento de Políticas Públicas ou de modificações na vida das pessoas, individualmente ou coletivamente, é dedicar a entidade metafísicas e abstratas as causas dos nossos problemas/comportamentos, como preguiça, vergonha, em vez de buscarmos compreender contingências concretas, como um trabalho/atividade pouco reforçador(a) ou histórico de punição social, que são condições que podemos modificar e melhorar a vida das pessoas.

A verdade é que se os manifestantes estivessem nas ruas por controle do saber dos problemas do Brasil, então não teria ocorrido diminuição no volume de pessoas reivindicando mudanças (inclusive na Copa)...


Nossa hipótese é que muitas pessoas se manifestaram em função de Controle Aversivo, por não terem ido às ruas e tirado uma foto e postado em alguma rede social seriam excluídos de seus grupos sociais(como indica a seguinte reportagem do Estadão), ou Reforçamento, principalmente social, por meio do apoio dos colegas nas manifestações ou repercussão das fotos tiradas em meio as manifestações e postadas nas redes sociais.

Dito de outro modo, uma grande parte dos manifestantes estava se comportando por controle de contingências individuais e geraram, assim, um Produto Agregado de curto prazo (muitas pessoas nas tuas). Nestes contextos em que há produção de produto agregado sem que houvesse entrelaçamento de contingências, chamamos de Macrocontingências. Desta maneira, não houve um Entrelaçamento de Contingências selecionado em que as pessoas estavam nas ruas em função de um Produto Agregado de longo prazo (modificações concretas e duradouras nas políticas).


No entanto, ainda temos exemplos de Metacontingências, como o uso de vinagre para diminuir o efeito aversivo do gás lacrimogêneo e manter os manifestantes nas ruas. Por meio das redes sociais as pessoas alertavam sobre o uso do vinagre, ocorrendo assim um Entrelaçamento de Contingências por meio de regras verbais e, em muitos casos, exposição as contingências, cujo Produto Agregado era permanecer mais tempo nas ruas se manifestando... A truculência policial em busca de vinagre acabou virando piada! (O que podemos chamar de contracontrole da situação, pois rir do problema diminui o grau de aversividade momentâneo da situação vivida, apesar de não resolver o problema).


Bom era isso, alguma curiosidade que podemos tirar sobre o assunto?

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