terça-feira, 3 de junho de 2014

Relacionamento Amoroso no Behaviorismo Radical - "O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou"?


Esta postagem poderia ser sobre Amor na visão analítico-comportamental, mas o universo decidiu que hoje era o dia de tirar dúvidas sobre o porquê dos Relacionamentos Amorosos não estarem dando certo... Ossos do ofício quando as pessoas descobrem que você é psicólogo no ambiente de trabalho (chora sociedade!).
Antes de mais nada, como já devemos saber, o Behaviorismo Radical não se baseia em noções metafísicas e nem explicações sobrenaturais dos eventos do nosso cotidiano. Não recorremos a entidades metafísicas ou do além para explicar nossos comportamentos, incluindo o comportamento de Amar.

Sendo assim, apesar de muitos outros profissionais, professores e alunos creditarem ao Behaviorismo uma marca de cientificismo barato e frio, apático e apoético, a meu ver, é exatamente o Behaviorismo Radical a teoria que contém a visão mais poética de homem e de amor: 


Não há algo dado, o amor não é algo dado, algo que motiva o relacionamento, há pura e simplesmente duas pessoas agindo, há uma relação, há uma troca, duas pessoas trocando afetos (reforços) e sendo afetadas (reforçadas). Não há espaço para culpar o destino, as pessoas se encontram e as pessoas agem sobre o mundo uma das outras e isso as transforma! Ao continuarmos afetando e sendo afetados pela outra pessoa é que nossa relação se estabelece, se mantêm e provem frutos...

Bonito, não é?! É por esta e outras que eu sou Behaviorista!


Pois bem, mas vamos ao ponto de partida: por que os relacionamentos amorosos fracassam? Temos várias contingências que podem ser analisadas para explicar isso, mas vamos nos focar naquelas que eu consigo lembrar neste momento. Ou seja, esta postagem não pretende ser o Guia do Mochileiro das Galáxias dos relacionamentos amorosos...


REGRAS E AUTO-REGRAS:

Quem nunca ouviu a frase: "você não fez nada do que eu queria/esperava!", "você não é a pessoa que eu esperava ser/se tornar!", "mas as pessoas nos relacionamentos agem assim...", etc. etc. etc.

Pois bem, em nossa cultura, principalmente no que tange relacionamentos amorosos, tendemos a nos comportar em função de regras e nos tornamos insensíveis as contingências. O pior de tudo, as contingências as quais nos tornamos insensíveis é o próprio parceiro amoroso. Não aprendemos a observa, escutar ou mesmo sentar para conversar sobre como estamos nos sentindo em relação ao relacionamento. 

Simplesmente nos comportamos baseados em regras sociais de como deveria ser/estar a relação ou como a pessoa deveria continuar se comportando (normalmente, como no inicio do relacionamento) ou deveria ter mudado e passado a se comportar (mesmo que você nunca tenha dito o que desejava que a pessoa tentasse melhorar). E isso tudo ocorre porquê?

Temos uma hipótese: culpa do mentalismo nosso de cada dia! As pessoas aprendem em filmes e entre os pares que a pessoa romântica advinha o que a outra quer/deseja, quase como se fosse um dom que se desenvolve durante o relacionamento. Porém, assim como mudamos, as coisas que nos tornava sensível a estar com o outro mudam e também as coisas que os tornavam sensíveis a continuar conosco mudam.

Sendo assim vamos ao ponto dois.


CONTINUAR FAZENDO AS MESMAS COISAS 
ESPERANDO RESULTADOS DESEJADOS (OU DIFERENTES)

É muito comum ouvirmos queixas do tipo "mas ele gostava tanto disso" ou "ele não faz mais aquilo que eu gostava tanto" ou pior "eu vou continuar reclamando dele até um dia que ele mude". 

Um dos Reforçadores Primários que nós somos sensíveis é a Novidades. Isso mesmo, coisas novas nos atraem, por isso que dizemos que o bicho homem é um ser curioso... Mas, voltando ao foco, durante o inicio do relacionamento, ocorreu uma série de Emparelhamentos de Estímulos (como cheiro do perfume e lembrar da pessoa amada), Encadeamentos de Respostas (fazer tais e tais coisas para conseguir maior intimidade) e Reforçamentos Condicionados (em que a presença do outro era reforçadora por si e foi se condicionando a uma série de outras coisas que só eram acessadas ao se ter a atenção/presença do outro, como comer em determinada lanchonete juntos, ouvir determinadas músicas, determinados carinhos mais íntimos etc.).

Ok, mas o que isso tem haver, você está dando muitos rodeios... 

Bom, como vimos, para acessar determinados reforçadores como dormir de conchinha ou sexo propriamente ditos era preciso uma série de atividades anteriores e todas elas eram reforçadas com algo novo: um beijo mais caliente, um suspiro mais profundo, um "ops, a mão escorregou", etc. e todas estas atividades eram novas, ou seja, novidades: nos comportávamos curiosamente... Tateando no escuro!

Com o tempo, além de já conhecermos muito bem o companheiro (o que comprova que o relacionamento é bastante reforçador, pelo menos no quesito manter-se juntos), pode ocorrer uma habituação cotidiana em que não é preciso mais tanto esforço para chegar nas intimidades... Não é mais preciso aquele jantar a luz de velas que você se queimou todo ao cozinhas (pra mostrar que é um homem versátil) ou não é mais preciso pagar aquele restaurante excessivamente caro para impressionar o garoto (e dizer que é uma mulher independente), etc. Enfim, aquilo que o povo fala de "A Magia do (inicio de) relacionamento acabou"... Benditas regras sociais e cotidianos enfadonhos...


Bom, como todo bom behaviorista, eu diria que não, não existe A Magia ou A Paixão do momento. O que acabou foram as iniciativas de fazer coisas novas ou mesmo repetir estratégias que deram certo e nunca mais foram usadas, afinal "estamos morando juntos a tanto tempo, pra que que eu vou fazer jantar a luz de velas para fazer aquilo?". Então, vamos a uns exemplo:

1. A garota quer que o namorado lhe dê mais atenção, mas não faz  nada para conseguir, pois afinal ele deveria saber que... Ou tenta conseguir atenção dele, mas de modo inadequado. Por exemplo, em vez de usar aquele vestido que ele acha bonito, mesmo que seja aquele simplesinho, ela prefere se produzir toda com a roupa de ultima moda. Só que ele nem liga pra ultima moda...

2. O cara quer ocorra todo aquele sentimento do inicio do relacionamento, em que o sexo tinha toda uma intensidade e desejo, mas em vez de programar contingências mais íntimas com a namorada (com um vinho chileno, chocolate, luz de velas...) prefere sair com ela e uns amigos, tomar algumas e outras e quando chega em casa com aquele bafo de onça, quer que role algo especial.

(São só exemplos, viu gente?! Sei que há uma multiplicidade de arranjos reforçadores que variam de casal para casal e em alguns casos a dita falta de romantismo é que acende o fogo da galera...)

Enfim, em vez de esperar atenção, se faça seduzir e conquistar sua atenção (afinal, não é mais inicio do relacionamento em que ele queria a todo custo morder o fruto proibido)... Em vez de dar uma de babaca e dizer que ela não cuida de você, porque não assistir aquele filme chato de comédia que ela ama tanto e vocês já viram milhares de vezes... (Afinal, às vezes nem é o filme que ela quer ver, mas a sensação de estar abraçada sentindo teu cheiro, mané, mas como já foi dito, temos uma cultura que acredita que o parceiro deve adivinhar o que o outro deseja...).


AMOR É COMPORTAMENTO

Lá e de volta outra vez, mesmo eu tendo dito que não falaria de amor...

Gosto de pensar que o Amor ou Relacionamento Amoroso é um tipo de Comportamento Social especial, pois é bastante valorizado pela nossa comunidade verbal e há regrinhas pra tudo (mesmo que incorretas) sobre como deve ocorrer. E pelo menos uma vez na vida todo mundo já se reclamou disso, problemas em um relacionamento amoroso. 

Quem nunca sofreu por amor
Que atire a primeira pétala!

Como sabemos, Comportamento Social é quando o comportamento de outra pessoa ora tem função de contexto para que eu me comporte, ora tem função de reforço para o comportamento que emiti. Desta maneira, no relacionamento amoroso, é preciso não banalizar as contingências que a geraram, que as mantêm e nem suas consequências reforçadoras. Amor é uma atividade diária (comportamento) e não passamos 24 horas do dia amando (nos comportamento de modo amoroso), minto? É uma atividade que requer empenho...


Sendo assim: quem sabe dançar não fica dançando todo dia, a toda hora, a todo tempo, mas dança quando é pra dançar... E sendo assim, Relacionamentos Amorosos são uma forma de dança que vez por outra aprendemos seus passos, mas quando menos esperamos e estamos quase aprendendo a dança completa, mudam a música e com ela o ritmo que devemos danças. Desta maneira, é preciso aprender a fazer novos passos, novas contingências e novos reforçadores. Novos rearranjos comportamentais. Dentro de um relacionamento, novas relações contingenciais.

Deste modo, não devemos culpar o que foi ou deveria ter sido, mas fazer acontecer. Talvez conversar sobre os pontos que podem melhorar e discutir como fazer, mas não ameaçar ou se reclamar que as coisas mudaram. E como diz Belchior "Afinal tudo muda e com toda razão".

Finalizando:
1. Se Amor é Comportamento; e
2. Comportamento é Relação; então
3. Amor é a Relação entre duas pessoas (ou mais) e seus mundos; logo
4. É possível criar novas formas de nos relacionarmos sempre e melhor;
5. Isso não significa que seja algo fácil, afinal, cada um tem suas contingências; mas
6. Amar é transformar nosso mundo!
7. Sempre que possível, devemos transformar o mundo do outro!

Amor é comportamento, então faça algo pra manter o seu!

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