terça-feira, 17 de maio de 2016

"Amar e Mudar as Coisas": uma visão behaviorista radical de homem e mundo


Hoje é dia de escrever texto poético sobre Behaviorismo Radical. É dia de me permitir falar sobre os motivos que me fazem apaixonado pela Análise do Comportamento. Vamos falar da sua visão de homem e mundo! 

Talvez, por conta do seu viés estritamente experimental, seja difícil reconhecer que há todo um refinamento filosófico e, que chega a ser, poético por trás da Análise do Comportamento. O uso preciso de termos pouco convencionais para explicação da subjetividade humana (e de outros animais) pode tornar a leitura de textos behavioristas radicais, no mínimo, estranha aos leigos.

No entanto, quando vamos discutir sobre a visão de homem e mundo do Behaviorismo Radical, nos deparamos com uma poética filosófica das mais lindas, ricas e pragmáticas. Este texto pode ser resumido em: subjetividade é relação, mais precisamente, relação entre homem e seu mundo! Não há como compreender os fenômenos humanos se os desvincularmos de seu mundo. Não há como compreender o mundo desvinculado-o das relações humanas. Há uma relação íntima e singular entre o que fazemos/somos e o que nos leva a fazer/ser no mundo.


Por exemplo, quando nomeamos determinada coisa com um adjetivo não estamos descrevendo uma natureza intrínseca ao fenômeno. Apenas estamos nomeando tal fenômeno a partir de relações anteriores, com fenômenos similares, que nos foram ensinados a chamar assim. Sendo mais específico: saudade é um sentimento propriamente brasileiro, porque há relações comportamentais muito íntimas ensinadas desde a mais terna infância que nos fazem perceber determinados estados corporais em detrimento de outros e nomeá-los de saudade. Não há como explicar o que é saudades sem que recorramos a contar uma história (comportamental). Por exemplo, se eu disser que sinto saudades de uma coisa "x" que não faça parte da cultura de um amigo, possivelmente ele perguntará porque eu sinto saudades de "x". Diferentemente, se eu disser que sinto saudades da minha família, será menos provável que alguém estranhe, pois a explicação para tal comportamento é socialmente acessível.


As explicações behavioristas para homem e mundo são um contraste filosófico, um contracenso, para o que se está acostumado a entender em outras filosofias. Assim, por mais que algo seja simples e comum para uma comunidade verbal, ela ainda assim terá que ser explicada a partir das relações singulares entre um homem e seu mundo. Behaviorismo Radical é um convite a não acomodação a qualquer tipo de explicação já posta e é também um convite à verificar toda e qualquer relação singular que leve o sujeito a se comportar de tal modo sobre seu mundo (o que incluí compreender porque ele entende o mundo de uma forma e não de outra).

Behaviorismo Radical leva ao extremo a compreensão materialista de que o homem modifica seu meio e é modificado por ele, que há um contínuo histórico entre organismo biológico, relações pessoais e relações socioculturais. É levado ao extremo a compreensão de que somos homens e mulheres de nosso mundo com as abrangências e limitações de nosso tempo. É levado ao extremo a compreensão de que não há verdade absoluta, que estamos em constante mudança, mesmo que sejam as mais sutis. É levado ao extremo o posicionamento político de que não devemos nos conformar com determinadas condições pessoais e sociais (bem como suas possíveis explicações), pois não há nada de imutável quando se trata de comportamento. É possível mudar nosso mundo, e mudar nosso mundo significa agirmos diferente sobre ele.


Como já foi dito, é difícil de enxergar esta nuance tão delicada e poética do Behaviorismo Radical quando estamos imersos nos conceitos básicos de laboratório. Mas são tais conceitos que dão suporte a possibilidade de mudar nosso mundo, de mudar nossas formas de nos relacionarmos com o mundo, de maneira mais profunda e eficaz. Não são nossos conceitos que tornarão nossa filosofia mais ou menos profunda, será o quão pudermos compreender as nossas relações comportamentais e modificá-las que nos dará tal condição. E eu pergunto: de que adianta uma linguagem filosófica extremamente poética e rebuscada sem que, com ela, venham mudanças no mundo? A maioria dos analistas do comportamento estão interessados em melhorar nosso mundo. A poética do behaviorista radical está em "amar e mudar as coisas", como diz a música de Belchior. A nossa poética está em compreender o que impede que um sorriso brote e, assim, fazer com que tal sorriso possa ocorrer!


Não é difícil amar o Behaviorismo Radical quando se tem este horizonte transformador. Behaviorismo Radical não é uma filosofia paralisante, passiva diante dos desafios. Há determinadas correntes filosóficas que defendem que há algo de místico e impossível de ser compreendido nos fenômenos do mundo. Tais correntes nos afastam e abandonam a possibilidade de mudar nossas relações com o mundo, em detrimento de um rebuscamento obscuro... Behaviorismo Radical é uma filosofia do convite às mudanças, de que tudo é possível de ser explicado e modificado, de que não há condição de sofrimento humano que não possa ser diminuída. Quando está claro que sofrimento é uma relação entre homem e mundo, sabemos pra onde olhar, sabemos que há coisas ao nosso alcance, que podemos ajudar as pessoas a serem felizes!


Sendo assim, reforço meu convite: deixe-se encantar pelo Behaviorismo Radical, pela Análise do Comportamento. Sinta-se acolhido por uma filosofia combativa das posturas paralisantes e acomodadas. Sinta-se acolhido por uma filosofia transformadora e que não descarta os contrastes histórico-culturais. Sinta-se parte de uma comunidade interessada em amar e mudar as coisas!

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