Uma das dificuldades para que Análise do Comportamento não
alcance fácil adesão dentro e fora da Psicologia é devido uma fonte de controle
sutil: senso comum. No entanto, eu
vou discutir senso comum num sentido pouco usual...
É de conhecimento das pessoas que iniciaram seus estudos em
Análise do Comportamento, que esta comunidade tenta aplicar o modelo de
produção de conhecimento das ciências naturais ao objeto de estudo da
psicologia comportamental. Uma das nossas principais influências históricas é
adoção do modelo de estudo do fisiologista Pavlov. A partir deste evento,
herdamos sua linguagem experimental, como controle, estímulo e resposta. Cada
uma destas palavras já vem carregada de significados já estabelecidos pela
longa história das ciências e, quando aplicadas a Análise do Comportamento,
ganharam novo uso. Porém, o descompasso entre senso comum acadêmico e forma
como é empregada pela AC por si só causa estranhamos...
Outra dificuldade que enfrentamos é o fato de que as
premissas da AC destoam do conhecimento comum estabelecidos pelos avanços
anteriores da ciência. Por exemplo, termos como força e energia dizem
respeito a modelos de ciência que remetem a Newton e a descoberta da eletricidade.
A partir de Newton temos uma relação entre fenômenos de modo
a-histórico. Uma força X do nada é aplicada sob um corpo Y que possibilita
deslocamento Z. No entanto, é de compreensão contemporânea que o universo mantêm
complexas relações entre eventos. Ou seja, um corpo não se move apenas porque
uma força X foi aplicada por alguém, mas porque não houve resistência entre o
atrito do objeto e anteparo, não havia magnetismo agindo ou gravidade. Há uma
simplificação do fenômeno para fins didáticos, mas que geram o vício de crer que
sempre há uma relação unilateral entre eventos e que há uma suposta força
iniciadora. Em si tratando de psicologia, o senso comum acadêmico busca
justificar a existência de uma força que ocorre espontaneamente e age sobre o
organismo e que é preciso um eu iniciador que deseja mover este organismo no
mundo.
A partir do modelo da eletricidade, houve a compreensão que
era possível acumular energia em um objeto chamado baterias. Que era possível
redistribuir esta energia e ela possibilitava o funcionamento de instrumentos
tidos elétricos. Algo parecido ocorreu com a descoberta do uso hidráulico para
mover estatuas. Explicava-se o movimento de corpos orgânicos devido à
existência de fluidos vitais. Enfim, para algumas pessoas o modelo da
eletricidade se aplica a psicologia e que existiriam problemas que é devido a
excesso de energias, ou desgaste do aparelho devido intenso fluxo de energia. É
muito comum dizer que o excesso de raiva faz com que adoecemos. Esta é uma
frase comum da apropriação das explicações do modelo elétrico.
Para piorar, o atual modelo de ciência é o computacional. Este
modelo preconiza que há uma separação entre organismo físico que processam
dados e que há um organismo imaterial que codifica e transmite informações. Este
modelo é tão bem sucedido em conquistar o senso comum que até a biologia
adota-o por meio da transmissão de informações via genes... Para AC, esta
separação entre hardware e software é um apego ao mentalismo mais
arcaico que temos, uma separação total entre material orgânica e psiquismo. Não
tratam o ser humano em sua totalidade, descarta-se a possibilidade de compreensão
do homem de maneira materialista.
Bom, o que estes exemplos nos ensinam é que costumamos
adotar vícios acadêmicos de conhecimentos datados, porém largamente difundidos
no senso comum, para embasar nossas decisões teóricas. Sendo a AC destoante do
senso comum acadêmico pré-estabelecido, sofremos baixa adesão, além de que não
somos bons publicitários... Estas apropriações conceituais do senso comum não são
absurdas pelo fato de que após adotarmos o modelo de conhecimento de AC, por
vezes, temos dificuldade de abandonar uma noção a qual estamos acostumados por
uma mais coerente. Quando estamos apegados ao modelo explicativo o qual fomos
introduzidos, há resistência para mudarmos. Por exemplo, a psicologia
skinneriana é a psicologia do comportamento operante, porém produções
pós-skinnerianas já nos atentam para outros fenômenos de igual importância,
como comportamentos adjuntivos e o retorno a importância dos respondentes para
compreensão dos problemas humanos e cultura.
A literatura que inspirou a escrita deste textinho é da
autora Mecca Chiesa, cujo livro se chama Behaviorismo
Radical: a filosofia e a ciência. Apesar de ser um livro de pouca
acessibilidade para aquisição, é possível encontrá-lo em bibliotecas mais
antigas de Psicologia. Espero que o texto tenha alcançado seu objetivo de nos
alertar para os sensos comuns acadêmicos
a que somos reforçados socialmente a adotar. Que aprendamos a fazer auto-críticas
e, assim, possamos avançar na compreensão do comportamento humano e não-humano.
Como diria Skinner: Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.
Olá, bom dia. Estudando um pouco sobre alguns problemas na formação de professores também identifiquei esse senso comum acadêmico. Estou procurando referências para reforçar a crítica a esse senso comum. Além do livro que você indicou, teria outras leituras que consideraria importante?
ResponderExcluirParabéns pelo texto!