Devido a vida adulta, ando com dificuldades para escrever. Porém, segue textinho introdutório das bases filosóficas do Behaviorismo Radical pra matar aquela saudades.
A Análise do Comportamento é uma abordagem psicológica que
nasce a partir da influência de estudos de fisiologia animal feitos pelo russo
Ivan Pavlov e o refinamento conceitual e experimentos do psicólogo John Watson.
Pavlov verificou o fenômeno do condicionamento respondente, no qual um estímulo
antes neutro passa a eliciar respostas de salivação em cães famintos. Enquanto
Watson propôs adequação da Psicologia ao modelo de produção de conhecimento das
ciências naturais (verificação empírica e replicação) e sugeriu que o
comportamento fosse o objeto de estudo devido sua verificação direta por pares
(e adequação aos critérios da filosofia positivistas). Tal proposta era
contraditória ao modelo hegemônico de psicologia da época, a saber,
introspectiva, cujo rigor científico não era objetivo.
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Ivan Pavlov |
Seguindo a linha de pesquisa aberta por Watson, Skinner se
introduz no campo estudando comportamento de animais não humanos em laboratório
a partir dos departamentos de psicologia e de fisiologia. A partir da
influência de James, Skinner adiciona o critério pragmático do conhecimento e,
por consequência, fenômenos psicológicos. A partir da influência do francês
Bernard e medicina experimental, Skinner apropriou-se do modelo de sujeito
único, tratando o sujeito como medida para si mesmo, não necessitando recorrer
a dados estatísticos para explicar as modificações do comportamento dos
organismos. Em especial, a aproximação com os critérios pragmáticos de
filosofia possibilitaram com que Skinner não abandonasse comportamentos
não-observáveis diretamente, como pensamentos e emoções, mas os organizasse a
partir de sua função. Em específico, o termo função é uma influência dos
trabalhos de Ernst Mach, no qual abandona o modelo mecânico de explicação para
os fenômenos e adota um modelo multifatorial, funcional. Este modelo pressupõe
que, apesar da existência de um evento crítico para ocorrência de um dado
fenômeno, ele não é o responsável pela ocorrência, sendo necessário uma série
de fatores que saliente tal condição de ocorrência do evento.
Um dos pontos polêmicos da proposta de psicologia adequada
ao modelo das ciências humanas é o fato de Skinner adotar o comportamento de
animais não-humanos como modelos análogos para compreensão dos comportamentos
humanos. Mesmo na época contemporânea, há uma série de opositores do uso de
animais não-humanos para explicar processos básicos de comportamento humano. No
entanto, Skinner apoia-se na proposta darwiniana de seleção das espécies para
explicar que há semelhanças evolutivas entre o comportamento humano e demais
animais, salientando, no entanto, que há limitações, mas que estas podem ser
minimizadas a partir de estudos translacionais.
Em especial, a influência da lei do efeito, proposta por
Thordike, possibilitou a formulação do comportamento operante, no qual a
relação entre eventos consequentes possibilitavam a manutenção ou extinção de
um comportamento-alvo. Deste modo, Skinner avança na compreensão do
comportamento, não se limitando apenas na compreensão de respondentes (eventos
que se adequam ao modelo mecânico), mas alinha-se a proposta funcionalista
(eventos em relações de co-dependência).
Outra influência importante, porém sutil, é os pressupostos
filosóficos do materialismo histórico-dialético de Marx e Engels. Tal
influência é clara a partir da frase o organismo se comporta e produz uma
consequência que por sua vez retroage sobre o comportamento aumentando a sua
probabilidade de emissão no futuro. Sendo assim, temos a relação entre dois que
dialeticamente mantem uma relação de dependência no passar do tempo. Frase
similar a de Skinner é verificada na obra Ideologia Alemã dos autores
supracitados anteriormente.
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B. F. Skinner |
Retomando a questão dos eventos não-observáveis diretamente,
como Skinner adequa todos os comportamentos ao modelo de verificação
experimental e não recorre a eventos metafísicos, em vez disso recorre a
eventos ambientais proximais e distais (materialismo), ele torna-se avido
opositor a propostas internalistas de psicologia. A prática de recorrer a eventos
metafísicos para explicar as causas do comportamento, Skinner chamou de
mentalismo. Segundo ele, o mentalismo atrapalharia o avanço dos cientistas em
buscar novas explicações para o comportamento devido ao recurso cômodo
metafísico. Na medida em que a ciência do comportamento avançaria, para
Skinner, menos seria a necessidade de recorrer a explicações desta natureza.
Em resumo, poderíamos dizer que as bases filosóficas e
conceituais da Análise do Comportamento derivam do modelo de produção de
ciências naturais e linguagem experimental, apoiam-se no materialismo marxiano,
no funcionalismo machiano, no pragmatismo jameniano, no selecionismo
darwiniano, do modelo de caso único bernardiano e se apoia em dados
experimentais produzidos por pesquisadores que o antecederam, como Pavlol,
Watson e Thordike.
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