terça-feira, 10 de julho de 2018

Pressupostos Teóricos e Filosóficos da Análise do Comportamento



Devido a vida adulta, ando com dificuldades para escrever. Porém, segue textinho introdutório das bases filosóficas do Behaviorismo Radical pra matar aquela saudades.

A Análise do Comportamento é uma abordagem psicológica que nasce a partir da influência de estudos de fisiologia animal feitos pelo russo Ivan Pavlov e o refinamento conceitual e experimentos do psicólogo John Watson. Pavlov verificou o fenômeno do condicionamento respondente, no qual um estímulo antes neutro passa a eliciar respostas de salivação em cães famintos. Enquanto Watson propôs adequação da Psicologia ao modelo de produção de conhecimento das ciências naturais (verificação empírica e replicação) e sugeriu que o comportamento fosse o objeto de estudo devido sua verificação direta por pares (e adequação aos critérios da filosofia positivistas). Tal proposta era contraditória ao modelo hegemônico de psicologia da época, a saber, introspectiva, cujo rigor científico não era objetivo.

Ivan Pavlov
Seguindo a linha de pesquisa aberta por Watson, Skinner se introduz no campo estudando comportamento de animais não humanos em laboratório a partir dos departamentos de psicologia e de fisiologia. A partir da influência de James, Skinner adiciona o critério pragmático do conhecimento e, por consequência, fenômenos psicológicos. A partir da influência do francês Bernard e medicina experimental, Skinner apropriou-se do modelo de sujeito único, tratando o sujeito como medida para si mesmo, não necessitando recorrer a dados estatísticos para explicar as modificações do comportamento dos organismos. Em especial, a aproximação com os critérios pragmáticos de filosofia possibilitaram com que Skinner não abandonasse comportamentos não-observáveis diretamente, como pensamentos e emoções, mas os organizasse a partir de sua função. Em específico, o termo função é uma influência dos trabalhos de Ernst Mach, no qual abandona o modelo mecânico de explicação para os fenômenos e adota um modelo multifatorial, funcional. Este modelo pressupõe que, apesar da existência de um evento crítico para ocorrência de um dado fenômeno, ele não é o responsável pela ocorrência, sendo necessário uma série de fatores que saliente tal condição de ocorrência do evento.

J. B. Watson

Um dos pontos polêmicos da proposta de psicologia adequada ao modelo das ciências humanas é o fato de Skinner adotar o comportamento de animais não-humanos como modelos análogos para compreensão dos comportamentos humanos. Mesmo na época contemporânea, há uma série de opositores do uso de animais não-humanos para explicar processos básicos de comportamento humano. No entanto, Skinner apoia-se na proposta darwiniana de seleção das espécies para explicar que há semelhanças evolutivas entre o comportamento humano e demais animais, salientando, no entanto, que há limitações, mas que estas podem ser minimizadas a partir de estudos translacionais.



Em especial, a influência da lei do efeito, proposta por Thordike, possibilitou a formulação do comportamento operante, no qual a relação entre eventos consequentes possibilitavam a manutenção ou extinção de um comportamento-alvo. Deste modo, Skinner avança na compreensão do comportamento, não se limitando apenas na compreensão de respondentes (eventos que se adequam ao modelo mecânico), mas alinha-se a proposta funcionalista (eventos em relações de co-dependência).


Outra influência importante, porém sutil, é os pressupostos filosóficos do materialismo histórico-dialético de Marx e Engels. Tal influência é clara a partir da frase o organismo se comporta e produz uma consequência que por sua vez retroage sobre o comportamento aumentando a sua probabilidade de emissão no futuro. Sendo assim, temos a relação entre dois que dialeticamente mantem uma relação de dependência no passar do tempo. Frase similar a de Skinner é verificada na obra Ideologia Alemã dos autores supracitados anteriormente.
B. F. Skinner

Retomando a questão dos eventos não-observáveis diretamente, como Skinner adequa todos os comportamentos ao modelo de verificação experimental e não recorre a eventos metafísicos, em vez disso recorre a eventos ambientais proximais e distais (materialismo), ele torna-se avido opositor a propostas internalistas de psicologia. A prática de recorrer a eventos metafísicos para explicar as causas do comportamento, Skinner chamou de mentalismo. Segundo ele, o mentalismo atrapalharia o avanço dos cientistas em buscar novas explicações para o comportamento devido ao recurso cômodo metafísico. Na medida em que a ciência do comportamento avançaria, para Skinner, menos seria a necessidade de recorrer a explicações desta natureza.


Em resumo, poderíamos dizer que as bases filosóficas e conceituais da Análise do Comportamento derivam do modelo de produção de ciências naturais e linguagem experimental, apoiam-se no materialismo marxiano, no funcionalismo machiano, no pragmatismo jameniano, no selecionismo darwiniano, do modelo de caso único bernardiano e se apoia em dados experimentais produzidos por pesquisadores que o antecederam, como Pavlol, Watson e Thordike.

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