segunda-feira, 31 de março de 2014

Tangenciando as Questões do Blog

Esta postagem é polêmica. Deixou o autor assim como Diretor Skinner na foto.
Apesar de não se tratarem de perguntas voltadas especificamente para o que é, com que trabalha e o que faz um analista do comportamento, as perguntas que me foram feitas no Ask dizem respeito ao contexto vivido por muitos estudantes: compreender as disputas políticas, epistemológicas e econômicas em Psicologia, buscando eleger ou apostar em um possível vencedor.

A princípio, acreditei que se tratava de algum modo de pirraça (pode até ser, na verdade), mas resolvi tratar de modo sério, afinal, pode ter alguém que venha a se beneficiar com uma resposta séria!

A nível de curiosidade, as perguntas foram:

1. O que você acha de Freud?
2. Quais são os futuros da Psicologia na sua opinião? Freud, Jung, Rogers serão esquecidos, ou melhor, darão mais espaço pra abordagens mais científicas como Skinner?

Pediram-me posicionamentos pessoais, no entanto, na medida do possível, tentarei ser o mais neutro possível:

1. Freud foi um homem de seu tempo, que rompeu paradigmas. Tais paradigmas, porém, eram baseadas no modelo de ciência vigente. Haviam uma disputa política na Alemanha entre filósofos, biólogos e médicos para saber quem poderia estudar a Psicologia e isso gerou questões como o que era psicologia científica na época, que não condiz com nosso modelo atual. Tal modelo de psicologia científica levou Freud a dizer que Psicanálise não era uma Psicologia. Há quem ainda diga que não é uma Psicologia (mas grande parte dos psicanalistas se foram em cursos de Psicologia). Porém, se transpormos as argumentações utilizadas por Freud de sua época para o atual contexto de pluralidade da Psicologia, estas argumentações já não serão coerente. Então, tirem suas próprias conclusões. Enfim, Freud foi um cara que deu corpo ao modelo de clínica tradicional, cunhou algumas frases que ainda servem de modelo as demais abordagens, como "cada caso é um caso", mas também foi um cara muito inflexível e rancoroso, só lembrar relacionamento dele com Jung e seu desfecho cheio de mágoa. Por esta inflexibilidade frente a sua teoria (apesar de dizerem que Jung ajudou-o a reformular parte das suas formulações, mas do seu jeito), acho que torna-o uma pessoa a quem não nutro apreço.

2. Infelizmente, ser ou não uma abordagem científica não é padrão ético para escolha de abordagem em Psicologia. O que alguns psicólogos podem chamar e entender como Ciência e científico muitas vezes são concepções senso comum sobre o fazer dos cientistas. Há abordagens que se revestem de um discurso de pseudo-ciência e dizem descobrir a solução milagrosa de tal problema mental. Tal prática é tão parecida com o charlatanismo da Idade Média que ficamos atônitos, principalmente frente a TV nas noites de domingo. Porém, apesar de tudo, as pessoas consomem estas aplicações miraculosas de abordagens pretensamente científicas. Correlações estatísticas por si não são Ciência, você pode fazer várias relações entre diversos eventos no mundo e isso não querer dizer nada: não há relação causal (não mecanicista). Desta maneira, se formos depender da cientificidade como parâmetro de escolha de abordagem, nas atuais condições sociais da Ciência, será impossível dizem que haverá prevalência desta ou daquela abordagem.

Para além disso, cada abordagem tem suas organizações políticas a nível nacional e internacional e, também, defendem nichos de mercado. Não se iluda, nem toda discussão filosófica da condição humana é de fato sobre a condição humana, principalmente em sala de aula. Muitas vezes, estas discussões são apenas palanques políticos na disputa de adeptos. Lembremos que existem inúmeros cursos de formação e especialização Brasil a fora e as pessoas lucram com eles.

Para a alegria de alguns, Skinner cita vez por outra Freud, mas isso não quer dizer que no sentido freudiano. Ele traduz algumas concepções de termos como lapso, ato falho e sonhos de modo bem distinto. A Psicoterapia Analítico Funcional, de Tsai e Kohlemberg, se apropriam de alguns conceitos e técnicas de outras abordagens para o uso na clínica analítico-comportamental. Mas, repito, são apropriações para o modelo de estudo com base analítico-comportamental, não se trata de uma salada de fruta. Determinadas posturas e atitudes profissionais, normalmente relacionadas a abordagens específicas, podem ser compreendidas de modo diferente e funcionarem de modo diferente, mas essencial, no trabalho do behaviorista radical, como empatia por exemplo.

Por fim, porque ser Behaviorista Radical? Porque é uma proposta de trabalho baseada em evidência de sua eficácia. Ou seja, temos como comprovar que nossa atividade profissional tem maior ou menos possibilidade de transformar a vida das pessoas, torná-las melhor. Acredito que esse seja um dos melhores parâmetro ético: vender um trabalho eficiente, seja para instituições públicas ou privadas.

Vamos a um exemplo: você procura um fisioterapeuta para tratar de um problema motor na sua perna, por conta de um acidente de carro. Porém, ao perguntar sobre as probabilidades de voltar a ter o movimento normal da perna, o fisioterapeuta diz que isso depende de muitas coisas. Então, você pergunta sobre os riscos e potencialidades dos cuidados a serem feitos e o fisioterapeuta diz que não entende o motivo da pergunta. Por fim, você pergunta qual a média de pessoas que já se beneficiaram com tal tratamento e estão satisfeitas e andando normalmente e, por fim, ele responde "essas informações não são necessárias, cada pessoa tem uma perna diferente, aprendeu a andar diferente, em tempos diferente, etc.". Você confiaria no atendimento que este fisioterapeuta iria prestar?

O exemplo acima não é direcionado a nenhuma abordagem, mas é uma alegoria para nos lembrar sobre a responsabilidade ética que devemos ter com nossa atuação profissional. Esta responsabilidade pode ser traduzida como o compromisso em promover ações e condições de melhoria do bem-estar do assistido. Devemos ser capazes de promover mudanças significativas na vida dos outros de modo responsável e baseado em ações eficazes. Isso quer dizer: evitando ações profissionais baseadas em concepções populares (senso comum) ou individuais (sem que tenha referência acadêmica), perpetuando, desta maneira, a compreensão errônea de que a atividade do psicólogo não serve de nada, diminuindo assim o reconhecimento e valor monetário do profissional. Não adianta lutarmos por melhorias salariais sem apresentamos a população as contribuições de nossas atividades de modo claro.

Finalizo pedindo que tentemos focar em perguntas mais voltadas a Análise do Comportamento, não só porque é o objetivo do blog, mas porque evita que tratemos de temas polêmicos ou induza a má compreensão de determinados escritos. Há temas que são mais interessantes de serem discutidos face a face. Sei que, em muitos casos, o inicio da graduação de Psicologia é assustadora pelas diversas quebras de paradigma. Outros temas, que não envolvem diretamente a Análise do Comportamento, também fazem parte de meus interesses, mas tratar deles, não seria interessante.

Sendo assim, vocês podem mandar perguntar diferentes, se forem temas que trarão benefícios, pode ser que sejam respondidos.

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